sábado, 14 de junho de 2008

Realidade Vertical

Crianças sem futuro,
esgoto a céu aberto
um pivete no escuro
achando que é esperto

Mídia se faz de inocente
não nos tratam como gente
aqui é chapa quente
se acha que isso é vida,
venha aqui, experimente

Sorrisos amarelos, tristonhos e forçados
coisa certa na favela
é moleque revoltado
triste em ver a mãe sofrer
querer um pão e não poder
só resta no escuro um abraço oferecer

Me vêem da tv
e me julgam sem saber
parece que vim ao mundo
unicamente pra sofrer
só me ensinaram a consumir
e acho que aprendi
tudo sem juros no carnê

Balas encontradas
num peito inocente
mais um queimado na favela,
morreu como indigente
lágrimas da mãe
falsa força de um pai
mais um dia de batalha
mais um filho que se vai

O morro tá tomado
tiro pra tudo que é lado
invadem os "alemão"
"amigos" com fuzil na mão
PM de caveirão;
subindo pra matar
nada de capturar
todos vêm na adrenalina
e quando, enfim, termina
só resta a carnificina

Mas aqui não é só desgraça
o baile lota a praça
esquecem os problemas
esquecem as ameaças
tudo no arrego
no mais belo sossego
não temos distinção
de amarelo, branco ou preto

Pátria mãe gentil
que me chama de imbecil
que não gera gentileza
acreditei no tal profeta
mas a realidade é só tristeza

Vida sofrida e de esperança
de um povo maltratado
que sonha com a abonança
e um dia ser amado
ou ao menos respeitado

3 comentários:

Anônimo disse...

Maneiro esse!!! ´=)

Daniel Leite disse...

Mais uma vez, muito bom o texto!

O blog voltou ainda mais agradável. Este poema, assim como o primeiro, tem a propriedade de nos fazer refletir a respeito do que vivemos. E dá para se aborrecer bastante diante de tantos fatos e atos esquisitos.

E que permaneça esta estrofe nas nossas cabeças:

"Mas aqui não é só desgraça
o baile lota a praça
esquecem os problemas
esquecem as ameaças
tudo no arrego
no mais belo sossego
não temos distinção
de amarelo, branco ou preto".

Até mais!

Henrique Monteiro disse...

Parece um rap. :D

Pois é, como diria a Pitty "quem vê FOTO não vê coração".
As aparências... ah, essas aparências.